Prezados leitores,
Meu nome é Jesuina Passaroto , sou violista da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal. Falo sobre o projeto de lei que autoriza as OS's no RJ.
Infelizmente este projeto não só autoriza a implementação das OS's no estado, mas foi embutido no projeto, e a população não sabe disto, a extinção das instituições da cultura no Rio de janeiro.
Fundação Theatro Municipal, Funarj, museus, escolas de música, de dança, de teatro e todo as as instituições públicas de cultura serão extintas.
Vendo toda a publicidade a favor da implementação das OS's, aqui no Rio de Janeiro gostaria de dar alguns esclarecimentos sobre este projeto de lei estadual, e em particular sobre o Theatro Municipal. O que não se esclarece nunca na mídia, é que não somos contra as OS's, somos contra o que está embutido . A secretaria de cultura pede a EXTINÇÃO da Fundação Teatro Municipal e suas respectivas carreiras de músicos, bailarinos e coristas.
Porque o projeto não reza simplesmente a implementação das OS's? Porque extinguir as fundações e as carreiras?
Penso que, quando a imprensa fala em responsabilidade dos novos conselheiros responder com seu próprio bolso, não se pode falar em bolso, quando o que se está em jogo é a extinção de carreiras.
Carreiras que já existem a 80 anos , como as carreiras de bailarino, músico e corista. Como se paga com o bolso isto? Depois de acabado, não resta mais o que fazer. O tema é muito mais complexos do que se imagina. Como pensar em acabar com o único lugar no país onde se possui a possibilidade de uma carreira, numa área tão pobremente orçada? A proposta é de privatização sim. Faço a seguinte pergunta:
Qual o nome de um bailarino, no escalão de Ana Botafogo ou Cecília Kerch, reconhecidas internacionalmente que se tem notícias no país?
Porque elas escolheram ficar no Teatro Municipal do RJ com "tantas" oportunidades na inciativa privada? Resposta: Porque dentro do Theatro Municipal existe a possibilidade da formação, aperfeiçoamento e continuidade da carreira. Podemos falar tambem sobre os conselheiros.
No projeto reza a participação de 40% de membros indicados pelo governo, 50% de membros da sociedade civil e 10% de membros indicados pela categoria. Próxima pergunta: Quem autoriza a nomeação dos 50% da sociedade civil? Resposta: o próprio governo. Então o governo responde por 90% dos conselheiros, uma proposta nada justa. Não somos corporativistas, somos artistas. Defendemos o espaço que atuamos, por sabermos exatamente do que ele precisa. Gostaria de informar que tivemos várias reuniões com a secretária, antes mesmo da sua nomeação,
para mostramos projetos de uma maior participação do Theatro para com a sociedade.
Todos, nunca saíram da conversa. São projetos que antes de mais nada, desoneraria o Estado em termos de valores, projetos que daria como consequência uma melhoria de vida para toda a sociedade.
Citarei alguns deles. O Projeto Escola, que já fazíamos e foi decontinuado. É um projeto onde, a cada produção de ópera ou ballet, se leva escolas públicas para assistir ao espetáculo na íntegra. Os alunos tem uma aula antes sobre o que vão assistir e depois do espetáculo fazem trabalhos sobre o que viram. Importante para a formação de platéia, melhoria educacional e cultural, engrandecimento de uma sociedade. Tivemos um projeto de livros para as bibliotecas públicas. Para cada produção de uma ópera ou ballet, um dia de espetáculo, o ingresso era a doação de um livro. Ficamos com toneladas de livros nas salas do Theatro. Eu mesma dei a idéia de fazermos o mesmo tipo de espetáculo, mas com o ingresso de alimento não perecível, para abastecer as escolas públicas do estado, projeto rejeitado. Estes são só alguns exemplos de como podemos ser úteis à sociedade e ao Estado. Mas fica a pergunta: Porque não desonerar o estado? Não sei a resposta. Fico triste de ver que a imprensa só escuta o lado de lá. Colocando-nos na condição de corporativistas, criadores de casos, tumultuadores e irresponsáveis. Muito pelo
contrário. Queremos muito que a cultura dê certo. Sempre falo que antes de servidores públicos, somos artistas, mas não podemos permitir a extinção de instituições seculares que só não dão certo devido aos seus gestores, sendo que todos os presidentes e diretores são cargos de confiança dos governadores. Em uma conversa com a secretária Adriana Rattes e os representantes das associações dos corpos artísticos do Theatro Municipal, a própria secretária nos falou que, assim que fosse aprovada a lei, ela exoneraria a atual presidente da Fundação Teatro Municipal e a colocaria como presidente da nova OS. Mudou alguma coisa ou ficaremos na mesma? Se a Fundação não funciona atualmente e se não temos a programação, o que faria com que a mesma presidente, agora sob novo modelo de gestão, passasse a fazer uma programação digna?
Outro ponto polêmico, pelo menos para nós, é o fato da lei de licitações deixar de existir. Como explicar o poder que o conselho terá com o dinheiro público sem prestar contas? Como explicar a autorização para investimento no mercado financeiro, do dinheiro que o governo dará? Porque não dar esta mesma dotação orçamentária, obrigatória por parte do governo (reza também no projeto), às instituições já existentes? Vale lembrar também que as referidas instituições, que estão com a extinção prevista, já foram transformadas em fundações para poder fazer a captação da iniciativa privada. Pois então, não estamos contra as OS's, estamos contra a um modelo insano de gestão para a Fundação Teatro Municipal. As OS's podem funcionar em muitos setores, não sou especialista nisto, mas posso dizer que, depois de 30 anos trabalhando em orquestra, tanto na iniciativa privada como no serviço público, posso te afirmar que este modelo não é o melhor para nossas atividades. Não podemos ficar à mercê de um governador querer renovar um contrato de gestão. E se o próximo não quiser ou não conseguir gerir o Theatro? Acaba-se tudo, vai tudo por agua abaixo? 100 anos jogados no lixo? Para confirmar tudo isto que estou dizendo, é só puxarmos pela memória e procurarmos por outro lugar no país, onde se tem coro, ballet e orquestra, trabalhando juntos a 80 anos. Acho que não tem resposta, não existe isto em nenhum lugar do Brasil.
Como em outro tópico, desta mesma revista, a população necessita de uma temporada de ópera e ballet. Com a aprovação deste projeto a única maneira de se ter uma temporada de ópera e ballet será através de uma tela de cinema, aliás principal atividade da secretária de cultura e da presidente da Fundação Theatro Municipal.
Espero que este desabafo seja publicado na íntegra.
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