Conheça o IBISS: uma ilha de esperança em meio ao mundo do crime

Por Rodrigo Coutinho

Sexta-feira, dia 20 de agosto de 2010, bairro da Penha, subúrbio do Rio de Janeiro. São dez horas da manhã, e no Instituto Brasileiro de Inovação em Saúde Social, dentro da Favela Vila Cruzeiro, cerca de trinta crianças recebem aula de percussão com instrumentos alternativos. É o projeto Ciclo Natural, idealizado pelos músicos Ciro Kastrup e Marco Arruda, e levado até a comunidade, através de  parceria com o SindMusi.

Além de iniciação musical, aquelas crianças recebiam importantes lições de consciência ambiental, tendo contato com objetos até então descartáveis para elas. Mais do que isso, a presença do projeto na comunidade, deu às crianças o sentimento de inclusão, de enfim fazer parte do mundo das oportunidades. Talvez, a falta das tais oportunidades, seja o mais verdadeiro motivo da proliferação da criminalidade a que estas crianças convivem diariamente.

Dispostos a mudar esse quadro, há cinco anos os funcionários do IBISS fazem um importante trabalho, levando esporte, música e esperança para os moradores de uma das favelas mais violentas do Rio de Janeiro. 

O projeto, que é mantido financeiramente pelo Governo do Estado, oferece dez oficinas culturais: Futebol, Natação, Judô, Vôlei, Capoeira, Percussão, Dança de Salão, Ballet, Ginástica e Teatro. Além destes, ainda há aulas de Funk, Danças Afro e recreação para os jovens. E os jovens são exatamente a maior preocupação. o que explica o Coordenador de Cultura do projeto André Ferreira: '' Aqui, o primeiro emprego que aparece é no Tráfico de Drogas. Nós oferecemos um outro caminho, o nosso papel é tirar as crianças disso, dar uma alternativa de vida''.

Apesar da atenção maior dedicada ao público infantil, André ressalta também a preocupação em atender os adultos residentes no local: ''Temos posto da OAB, Fisioterapia, Ginástica para terceira idade, Assistência Social, Nutricionista, Dentista, tudo para a comunidade. É importante  um trabalho voltado para os adultos''.

Quanto a possível interferência do tráfico de drogas no projeto, André Ferreira declara: ''Nunca houve intromissão do tráfico no IBISS. Existem até filhos de traficantes que estão conosco aqui''. As palavras de André são corroboradas por Antônio Tibúrcio, Coordenador Geral do projeto: '' Interferência nenhuma. A única coisa que me pedem aqui, é liberar a piscina nos dias de calor para toda comunidade". 

No IBISS, existe ainda uma iniciativa voltada para os traficantes que queiram se regenerar socialmente. O projeto Soldado Nunca Mais, já recuperou seis jovens que faziam parte do tráfico da região. Um deles inclusive, é Chefe de Almoxarifado do local, cargo de confiança, segundo o próprio André.

A busca por talentos na comunidade, também faz parte dos objetivos do IBISS. André fala sobre os prodígios do projeto: ''Aqui tem uma garotada muito talentosa. No futebol e na dança já tivemos alunos que saíram daqui e estão em clubes, escolas de dança, iniciando a carreira profissional''.

João Bani, professor de Percussão do IBISS e Diretor Social do SindMusi, confirma o surgimento dos talentos: '' É importante que se potencialize o talento destas crianças. Tenho alunos aqui que dariam ótimos percussionistas ''.  Apesar de vislumbrar o surgimento de grandes talentos no projeto, ambos fizeram questão de reafirmar a necessidade primordial: formar cidadãos.



E é assim, formando cidadãos, que o IBISS vai levando alento à dezenas de famílias que habitam a Vila Cruzeiro.